8.14.2009

Nume

Ouvir!Nume: ser ou potência divina, divindade, deidade, espírito sobrenatural que protege e ilumina os homens, inspiração poética, sentimento íntimo, afeiçoamento. Em latim, a palavra quis significar ao mesmo tempo movimento de cabeça, assentimento e poder divino.

A vida, a minha vida é um desentendimento fluido: uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver. Nenhuma simpatia violenta desperto. Ninguém será nunca comovidamente meu amigo. Não posso ser nada e tudo: sou a ponte de passagem. Por que escrevo então? Por saber que aqui resulto fútil, falhado e incerto.

como quem nada nihil rien de quelque
chose


Geralmente...

sub sole buscasse senão
prazer


procuro estudar a impressão que causo nos outros, tirando conclusões.

no rosto de quem

quase um chamado
pode ouvir?


Em geral, sou uma criatura com quem os outros simpatizam, com quem simpatizam, mesmo, com um vago e curioso respeito.

um chama
do banho que se quer
para sempre


Mas nenhuma simpatia violenta desperto. Ninguém será nunca comovidamente meu amigo. Por isso tantos me podem respeitar.

à noite é que vou me acordar

Perco-me, por isso, às vezes, numa imaginação fútil de que espécie de gente serei para os que me vêem, como é a minha voz, que tipo de figura deixo escrita na memória involuntária dos outros, de que maneira os meus gestos, as minhas palavras, a minha vida aparente, se gravam nas retinas da interpretação alheia.

ao som das chaves e a porta
e os passos e a alegria de
acordar de sobressalto


Sou altamente sociável de um modo altamente negativo. Sou a inofensividade encarnada. Mas não sou mais do que isso, não posso ser mais do que isso. Tenho para com tudo que existe uma ternura visual, um carinho da inteligência – nada no coração. Não tenho fé em nada, esperança em nada, caridade para nada. Abomino com náusea e pasmo os sinceros de todas as sinceridades e os místicos de todos os misticismos. A fadiga de ser amado!

enquanto branco rompe
desce ao longe um temporal

e antes é a imagem que
o fogo que expulsa e devora


Tudo é complexo, ou eu que o sou. Mas, de qualquer modo, não importa porque, de qualquer modo, nada importa... Se sonho, parece que me escrevem. Se sinto, parece que me pintam. Se quero, parece que me põem num veículo, como a mercadoria que se envia, e que sigo com um movimento que julgo próprio para onde não quis que fosse senão depois de lá estar.

um vulcão a boca a larva
um olhar sobressaltado


ao som da água que pinga... mente, o quanto é mais do que oco o lugar... não pertenço, desejo, sou nada... caído sentiente virado para... lágrimas rítmicas... farto de tudo, e do tudo de tudo... secas que continuam vivas nos meus sonhos... maria, maria, maria, maria...

e antes é a mão: grande
treme cinge circunde

e antes a imagem: noite
branca janela inerte

mas a força em tudo que
o olhar que penetra e foge


Hoje é o que penso: o há-de-ser-feito, o movimento, o mundo? Na loja de discos e a banda e o grupo e a cátia e o não saber dizer resposta inteligente, nada disso sou tudo isso e muito: o nume. Não vêm? Um dia vai ler então é melhor: o silêncio. Cada um de meus discos, as revistas empilhadas e mais páginas... Seria feliz se pudesse dormir. A noite é um peso por detrás do afogar-me com o cobertor mudo do que sonho. Tenho uma indigestão na alma.

e a mão que irrompe e
fecha afasta fria grande

enquanto o grito branco
na noite a casa: vazio


O mundo, hoje? O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas do Sul de tudo, mas para o lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenha em si o não ser este lugar. Quero não mais ver estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar. Se apenas amamos, podemos?

Sempre, depois de depois, virá o dia, mas será tarde, como sempre.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nume?
Para quê fugir, partir?
Porque não fazer deste o lugar onde o sono e o sonho é parte da vida?