10.27.2008

Sou

Ouvir!A minha querida amiga batukada vai-se casar. Acho muito bem que as uniões oficializem-se; para isso é que existem os cartórios. Juntam-se assim duas pessoas e o juiz dirá amém. Eu me pergunto se no cartório as pessoas fazem voto para a eternidade (para a eternidade não - diria o Larry David, somente até a morte). Fazem? Prometem lá aquilo tudo que prometem na igreja? E se não prometem, têm a intenção de cumprir?

Eu por mim não me incomodava nada se os Los Hermanos ficassem juntos para sempre. Eram tão legais, completavam-se letra e música! E o nome: Los Hermanos! Como é que foram cada um para uma gravadora diferente?

Pois é; as pessoas desentendem-se. Assim foi com o Morrissey e o Marr! Quando se separaram, ninguém quis acreditar. Alguns até se suicidaram de verdade. O Lennon fugiu com a Yoko. Cazuza partiu sem o Barão. Quer-se fazer crer que tudo foi assim na maior tranqüilidade, sem mágoas. A verdade sabemos nós os fãs: não foi. Basta ouvir o primeiro rebento da carreira solo destes divorciados. O Viva Hate é um dos discos mais tristes de que tenho notícia. Em Exagerado, Cazuza declara e implora: Nunca viram ninguém triste? Por que não me deixam em paz?

Assim vem o Marcelo Camelo, com o seu novo álbum, significativamente intitulado Sou. É. Assim: só. Foram-se os irmãos e vai o Camelo, em doce solidão.

Mas ninguém é só, ainda que se queira. Basta virar a capa do disco e ver a matemática.

10.06.2008

O Medo

Ouvir!Havia uma época em que eu lia os escritos de Jiddu Krishnamurti e achava tudo aquilo muito certo. É verdade, o Krishnamurti nada mais fazia que repetir alguns dos ensinamentos básicos do budismo, se não me engano muito. Isso de que o desejo é o mal de todas as coisas. Sofremos todos porque desejamos aquele sapato na vitrine. Eu, hoje, passados alguns anos, penso que é o medo.

Outro dia vi um filme bastante curioso a propósito disto, do medo. O filme é norte-americano, e por isso sejamos condescendentes. Chama-se O Novoeiro e é baseado num livro de Stephen King. É um filme de horror, como não podia deixar de ser. O horror neste filme, é, todavia, bastante sofisticado, a despeito de não querer parecer sê-lo. Tem por tema O Medo Muda Tudo. Muda. O medo muda absolutamente tudo.

Mas por que é que temos medo e do que temos medo? Do desemprego, talvez? Da solidão? De sermos mal-vistos, de não sermos amados? Tememos as catástrofes, o fracasso, o infortúnio? A morte? Aquilo que sentimos de fato? E a verdade, ou mesmo o desconhecido?

Acordamos e vamos dormir com medo - e é este, tão óbvio assim, o mal do século, Krishnamurti.

Mas é preciso perder o medo: do sexo, da musa, da perda, de mim.