11.11.2007

Aniversário

Ouvir!Piedade costuma dizer para todo mundo que detesta o dia do aniversário dela. Detesta que lhe dêem os parabéns, detesta receber presentes, detesta que lhe tirem fotografias. Lembro-me de uma vez, já há muito tempo, em que organizamos uma festa surpresa para ela na universidade. Nunca vi Piedade tão enfurecida em minha vida. Ela ficou vermelha, zangada, bateu a porta e foi embora. Até então pensávamos que tudo aquilo não passava apenas de uma fantasia que ela havia criado para si, e que não se importaria, afinal, se comemorássemos a data com balões, bolo, chapeuzinhos e línguas de sogra. Ficamos tão assustados com a reação dela, que estivemos ali por minutos sem saber o que fazer com aquela vela acesa.

A despeito de tudo isso, penso que ela gostou do almoço que organizei no primeiro de junho, em 2003, por ocasião de seu aniversário. Nada foi ali mencionado, é claro, mas ela sabia a razão pela qual estávamos reunidos. Ademais, escolhi um restaurante do qual ela gosta bastante, o Portoferreiro. Tomou um martini de aperitivo e comeu um seu prato preferido, regado de um bom vinho nacional. Ficou tão feliz, mas tão feliz que o diabo, inimigo da boa-ventura, fê-la cair na mesma noite, rachar a testa e machucar a bacia.

Um mês depois, no mesmo ano, Piedade convidou-me para almoçar no Dão João, um restaurante português da família Valença. O serviço no Dão João é bastante agradável. Tocam boa música e têm um cardápio relativamente sortido. Pedi um Arroz à Moda do Chefe, que vinha com camarões, lagosta e lascas de bacalhau. Se fosse um arroz diferente daquele que usaram na receita, talvez o prato fosse mais interessante. Piedade tomava uísque e falava em cinema. Queria ver As Horas, por conta de um curso que está oferecendo na pós-graduação. Já no segundo copo de uísque, percebi que o discurso de Pia começava a se tornar mais e mais afetuoso. Durante a sobremesa, ela começou a dizer como estava feliz por eu estar de volta, como era um prazer poder oferecer-me aquele almoço, etc. Prometeu-me o número da revista Continente que fala sobre o Recife, algo que já venho há tempos querendo comprar.

É curioso que, a despeito de fazer todo o alarde no que toca à comemoração de seu aniversário, Piedade faz questão de mostrar que lembra e se importa com o aniversário dos amigos. Eu não penso ser fundamental que se lembrem do dia em que faço anos, mas ao final acabo sempre por fazer um balanço de quem telefonou, de quem escreveu e de quem não fez nem uma coisa nem outra.

Hoje é o aniversário da Janaína. Parabéns, Janaína.

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