Urquhart é uma vila muito pequenina ao norte da Escócia. Tão minúscula que não há uma só menção a ela na internet. Aí, entretanto, é que se tem uma idéia da Escócia bruta; uma Escócia que não se vê mais entre as centenas de turistas que vagueiam deslumbrados pela Princess Street em Edimburgo. Quando chegar, aloje-se na Velha Igreja de Urquhart, que é a única pousada da região. Uma pousada quatro estrelas, é preciso dizer. Quatro estrelas conferidas pelo criterioso Scottish Tourist Board. Se for o dia de Santo André, o santo patrono da terra do uísque, vá ao clube da cidade e encontre um seleto e curioso grupo de cidadãos, os habitantes de Urquhart, juntos em um de seus ceilidh (festa, em galego escocês). Alguns em kilt. Outros nem tanto. Todos muito velhos, mas bons na arte de dissimular a curiosidade. Vão fingir que não repararam no forasteiro e seguir dançando uma quadrilha animada, aos tropeços (a marca do inexorável apagamento da tradição, mesmo em Urquhart). Aceite a cerveja, experimente stovies (um purê curioso, guarnecido com beterrabas), dance com quem lhe tirar para dançar. Ao final, vai estar bêbado e todos os velhinhos hão de parecer personagens do filme The Wicker Man. O único jeito de voltar à Pousada é a pé, por uma estrada sem iluminação, sem pavimento. Dormir numa igreja é quase uma experiência quase transcendental.
No dia seguinte, caminhe pelas redondezas. O Andreas Peter, dono da Pousada, poderá indicar-lhe o melhor caminho a seguir, e, se tiver tempo, há de querer lhe fazer companhia. Uma boa companhia, porque o Andreas conhece bem o lugar e cada um dos estranhos aldeões. Ali, para além dos pinheiros, há uma praia surpreendente. Sim, surpreendente, porque aparece quando menos esperamos. De súbito, ouvimos ondas aparentemente gingantescas. Mas onde estão? Ali, por trás de uns pedregulhos, furiosas, turvas, frias. É longa a caminhada, e é melhor começar a fazer o caminho de volta porque no inverno os dias são muito muito curtos em Urquhart. Admire, no caminho de volta à igreja, os campos, a luz dourada nos campos sem fim.
Por fim, se a estadia acabar num domingo, dê um pulinho em Lochill e passeie sem pressa pela extensa praia do vilarejo. Prepare-se, porque vai estar muito frio. Entretanto - e agora vem a melhor parte - há um restaurante ali mesmo no porto que é indispensável e servirá de antídoto para todo o frio do Norte. Chama-se "Harbour Tearooms" esse restaurante e aí toma-se a tradicional sopa escocesa Cullen Skink. Uma maravilha!
12.08.2007
Urquhart
Aut(h)or: Saavedra 1 co(m)ment(ário)s
12.07.2007
Silo Back!
Oh My God! Silo are back and they have a MySpace page:
http://myspace.com/silospace
Silo have to be one of the most underrated bands in the post-rock scene ever. Actually 'underrated' is not the right word to use here since it's not the case someone has written a big review slagging them off or some alternative music geek has desperately been trying to hide them under the shadow of Tortoise or something. So I probably should have written 'most unknown' instead. Silo are one the most unknown bands in the post-rock movement. But it seems now we'll have a chance to fix this.
Why they should be considered one of the most interesting (if not the most interesting) instead will be the matter of a future post here. The track 'Root' on that MySpace page should be good enough an indicator: a deep bass drone hovering over a very treasured 9/8 groove and then that fractal-like entrancing guitar pattern of Frederik Ammitzbøll. God, have you ever heard anything as good as that?
I'm not so fond of the heavily layered stuff over a dominant 4/4 beat they have on the new 'work in progress' tracks but it's interesting and innovative nonetheless: they now seem to be going for the odd-timed stuff as an other-dimensional component of their sound, exploring different rhythmic structures at the same time. Because I'm so used to their old composition style after hundreds of hours of listening to Instar and Alloy this new shit just doesn't seem true to form. But I'm definitely eager to hear the developments of that 'bringing Meshuggah to post-rock' approach.
Aut(h)or: Angelus 1 co(m)ment(ário)s
12.05.2007
Levada dos Balcões - Madeira's Most Dangerous Levadas and Mountain Walks Pt1
Levada dos Balcões, or rather Levada da Serra do Faial from Miradouro dos Balcões onwards, is probably the most spectacular 'waterway path' (yep, this was the best translation I could think of for 'levada' in the 'trail' sense) you are likely to find in Madeira and surrounding islands. Problem is, it will take you for two miles of completely unprotected, literally (quite literally) vertiginous walk. And no, we're not talking of Goetz' [1] 'levada professionals' type of danger here: compared to this, Levada do Norte's feat after the waterfall tunnel is just a walk around the park.
You don't believe me? Okay, then you should compare how wide the 'esplanade' of the Levada do Norte is when compared to this one:
One good thing about it though is that you get little escapes in case you just reach that unbearable level of frustration during the walk:
There is also a happy 'walking over the pipe' section:
Oh, and let's not forget there are slippery parts so you can practice your tightrope skills:
Formerly, you could take this levada both ways starting in Miradouro dos Balcões or coming up from Central da Fajã da Nogueira. As of 2005, there was a landslide near the source of the levada:
This now makes it a bit harder if you want to take it starting from Miradouro dos Balcões. For me at least it will be much worse explaining you the itinerary. The good news is that the alternative itinerary now makes for a much shortened levada experience, so you don't have to withstand the whole of those two miles of totally exposed trail.
Here are the directions: hit the road, and go to the Central da Fajã da Nogueira, near Cruzinhas. Then start climbing up (or spend some time in those lovely houses, and prepare yourself for the levada; that is, if you have some connections inside EEM). You'll get to the house with the dog and the shrine:
Then you go up and take the road left. This will lead you to some water tanks and tunnels but not before passing by a look-out point with the typical Madeira (read 'boring') landscape prospect:
Then you'll get across several tunnels which will lead you to the source of the levada. When you reach the source you'll just have to go down through the little river bed (not recommended during winter) until you reach the lower levada. This untrailed hike will take you no more than ten minutes. When you reach the lower levada, you're in Levada dos Balcões. That's where the fun starts!
Do it slowly, so you can enjoy the views both to your left and to your right:
It's a bit of a problem with this walk, actually. Even going real slow you probably won't be able to enjoy any of the views during your first experience because you'll be directing all of your attention to your feet. But even the path itself can be very picturesque at some points:
Finally, after such maddening tour, you can enjoy the lovely vistas from Miradouro dos Balcões. Probably much better than those from your Windows Vista (sorry for the totally uncalled-for and unsucessful pun):
But not before passing by the famous 'no hay paso' sign, which should tell you better:
Yeah, just don't say you weren't warned.
REFERENCE
[1] Goetz, Rolf (2005) Madeira: Rother Walking Guide. Munich: Rother.
DISCLAIMER
You are advised not to take these walks. Don't be stupid, these walks present real life threat, and have resulted in past deaths. You may fall down or you may get lost. Experience them at your own risk. The author assumes no responsibility whatsoever for any injury or loss if you decide to go for one of these.
For policy issues, you're referred you to the interview granted by Rocha da Silva on these matters.
For safety instructions, including some commercially convenient advice like «always be in company of a qualified guide» (oh boy, would I rather take one of these in company of a nice female guide, he he!), you're referred to Blog Thoughts Madeira Safety Precautions list.
Aut(h)or: Angelus 0 co(m)ment(ário)s
12.03.2007
Madeira's Most Dangerous Levadas and Mountain Walks - Pt0
Agora que há uma nova vaga de divulgação das veredas e levadas da Madeira junto da comunidade, com coisas como a exposição do clube Pés Livres no MadeiraShopping e com o programa da RTP Madeira Caminhos da Natureza, e agora que foi concluída a primeira parte do programa de recuperação que a Edimade levou a cabo em dezoito percursos (e que pelos vistos vai ser estendido a mais quatro), havendo inclusive um deles já acessível para quem anda de cadeira de rodas, eis a altura ideal para subir um pouco a fasquia.
Quer dizer, é mais do que justo que nós madeirenses, que ainda por cima fomos abençoados com este gentílico tão florestal, tenhamos estas boas oportunidades de conhecer aquele que é provavelmente o nosso mais importante património. E há que reconhecer o papel que gente como o Raymond Courtyard tem desempenhado junto da nova geração, para que os jovens funchalenses que, ao contrário de mim, não têm uma ascendência rural, possam conhecer esses prodígios.
Aquilo que eu proponho é, então, uma perversão desse serviço público: um olhar detalhado sobre algumas das nossas mais perigosas (mas porventura mais interessantes) levadas e veredas , precisamente aquelas que não vêm listadas no livro do Mr. Courtyard nem no Rother nem quejandos, mas que, enfim, talvez possam um dia vir a ser contempladas por esses projectos de recuperação governamental e empregar mais uns quantos presidiários.
NB. Não vai estar disponível numa Fnac perto de si.
Aut(h)or: Angelus 0 co(m)ment(ário)s