Abundam as casas de café em toda a parte. Recentemente a cadeia Starbucks começou a abrir suas lojas no Brasil com o tolo propósito de popularizar aquilo que os brasileiros conhecemos tão bem. Eu me recuso a entrar nessas cadeias americanas e pseudo-italianas porque simplesmente detesto a idéia. Foi então com prazer que vi abrir em Santo André uma casa de café muitíssimo gira e independente chamada The Couch. Há coisa de uma semana é que ando bisbilhotando o lugar pela vitrine e, pelo que pude observar, já começou bem. Os sofás estão sempre cheios e, pelos vistos, é a moçada do lugar que o freqüenta. Então pronto. Hoje resolvi experimentar e escrevo justamente sentado no sofá do The Coach. Um sofá muito bom, por sinal. Bom e confortável. Há por todo lugar um toque moderno e ao mesmo tempo clássico. Um moderno-clássico que não espanta aos já acostumados com Starbucks de esquina. Entretanto, não se enganem. O café aqui é realmente muito bom. Nada a ver com Nero, Starbucks ou o que seja nessa linha. Chego mesmo a dizer que foi o melhor café que tomei em Santo André até agora. Simples, puro e bom. Devem estar caprichando, que é para impressionar toda a gente mais ou menos entediada nesse inverno de chuva e frio. Há uma música descolada em background - que é possivelmente a pedida da moçada - e um clima de festa africana (devido à decoração feita pelo dono mesmo, que é originariamente da África do Sul). A disposição dos sofás é harmoniosa e cria um certo ambiente de comunhão - o que pede um inverno escocês. Há livros, jornais, revistas, jogos de mesa à disposição. Há internet de graça e clubes (troque seu livro, veja um filme clássico uma noite por semana). O menu, além dos cafés, lista sanduíches, saladas, sopas, chás e uma diversidade de opções para o café da manhã. O serviço pareceu-me rápido, simpático e eficiente. Então aí está uma boa pedida para uma tarde fria e chuvosa em Santo André, porque o café - já dizia o Flash Rosenberg - nos faz ir adiante.
1.30.2008
1.27.2008
Arnaldo Antunes
A Cilene Campetela definiu a voz do Arnaldo Antunes assim: digital. Pois é, há na voz do Arnaldo Antunes esse aspecto de zero ou um. Outro dia quis fazer uma experiência: ver a canção Exagerado, na interpretação singular do Antunes, em formato de onda acústica. Estava certo de que veria uns quadrados aí. Assim a voz do Arnaldo, assim o Arnaldo. Fui vê-lo no Marco Zero, no Recife, na madrugada do dia primeiro de janeiro - uma experiência marcante. O espetáculo começou por volta das quatro da madrugada para uma platéia já bastante cansada dos folguedos do réveillon. Vem o Arnaldo vestido em trapos, cantando quase sem expressão a inteligente Qualquer. Reparem que a letra dessa canção apela por "qualquer coisa que não fique ilesa; qualquer coisa que não fixe". E lá estava uma platéia embasbacada, sem saber se aplaudia, se ia embora ou se dormia ali mesmo. O que gosto no Arnaldo Antunes é mesmo essa apatia que preza por coisas vãs, como as regras de estética. Diz a minha irmã que o Arnaldo Antunes "faz questão de se enfeiar". Decerto o Arnaldo Antunes não faz questão de envelhecer - o que acho muito bonito. Lucas e Sarah, duas crianças que amo, acostumados com a voz e as canções do Antunes, viram-no outro dia no fenomenal DVD que lançou recentemente, Qualquer, e ficaram espantados: "como ele é velho!" É, sim. O Arnaldo tem quase cinqüenta anos, e mostra com austeridade cada um deles. E o show em DVD, que mostra sem disfarces cada dobra, nesga, rasgo e risco, foi o mesmo que apresentou no Marco Zero, às quatro da madrugada. Assim que o sol começou a despontar por trás das esculturas fálicas do Brennand, o Arnaldo Antunes saudou o novo ano sugerindo que entrássemos nele com o pé direito e com o esquerdo também. Com os dois pés no chão. E no ar. Aí então cantou a belíssima canção Luzes, que apregoa: "essa noite, essa noite vai ter sol!" O ano de 2008 começou muito bem, obrigado.
PS. O disco mais recente do Arnaldo Antunes pode ser baixado aqui. Mas eu recomendo vivamente que valorizem esse grande artista e comprem o disco aqui.
Aut(h)or: Saavedra 0 co(m)ment(ário)s