A Cilene Campetela definiu a voz do Arnaldo Antunes assim: digital. Pois é, há na voz do Arnaldo Antunes esse aspecto de zero ou um. Outro dia quis fazer uma experiência: ver a canção Exagerado, na interpretação singular do Antunes, em formato de onda acústica. Estava certo de que veria uns quadrados aí. Assim a voz do Arnaldo, assim o Arnaldo. Fui vê-lo no Marco Zero, no Recife, na madrugada do dia primeiro de janeiro - uma experiência marcante. O espetáculo começou por volta das quatro da madrugada para uma platéia já bastante cansada dos folguedos do réveillon. Vem o Arnaldo vestido em trapos, cantando quase sem expressão a inteligente Qualquer. Reparem que a letra dessa canção apela por "qualquer coisa que não fique ilesa; qualquer coisa que não fixe". E lá estava uma platéia embasbacada, sem saber se aplaudia, se ia embora ou se dormia ali mesmo. O que gosto no Arnaldo Antunes é mesmo essa apatia que preza por coisas vãs, como as regras de estética. Diz a minha irmã que o Arnaldo Antunes "faz questão de se enfeiar". Decerto o Arnaldo Antunes não faz questão de envelhecer - o que acho muito bonito. Lucas e Sarah, duas crianças que amo, acostumados com a voz e as canções do Antunes, viram-no outro dia no fenomenal DVD que lançou recentemente, Qualquer, e ficaram espantados: "como ele é velho!" É, sim. O Arnaldo tem quase cinqüenta anos, e mostra com austeridade cada um deles. E o show em DVD, que mostra sem disfarces cada dobra, nesga, rasgo e risco, foi o mesmo que apresentou no Marco Zero, às quatro da madrugada. Assim que o sol começou a despontar por trás das esculturas fálicas do Brennand, o Arnaldo Antunes saudou o novo ano sugerindo que entrássemos nele com o pé direito e com o esquerdo também. Com os dois pés no chão. E no ar. Aí então cantou a belíssima canção Luzes, que apregoa: "essa noite, essa noite vai ter sol!" O ano de 2008 começou muito bem, obrigado.
PS. O disco mais recente do Arnaldo Antunes pode ser baixado aqui. Mas eu recomendo vivamente que valorizem esse grande artista e comprem o disco aqui.
1.27.2008
Arnaldo Antunes
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