11.06.2007

Room At The Top

Ouvir!Vi o Room At The Top ontem à noite porque tenho um certo interesse pelo cinema britânico. Sobretudo o cinema britânico dos anos sessenta, da fase que ficou conhecida por The New Wave, ou - melhor ainda - The Angry Men Cinema. Um de meus filmes preferidos dessa fase é o This Sporting Life, do mesmo diretor de If... Mas foi o Room At Top que vi ontem e é sobre este filme que vou escrever.

Ora, o Room At The Top é um melodrama clássico, filmado em branco e preto, com diálogos muitas vezes artificiais e uma etérea Simone Signoret olhando sempre para um ponto indefinido entre uma xícara de chá e um copo de uísque. É a história de um jovem pobre que quer se dar bem na vida aplicando o famoso golpe do baú. Acontece que a meio do caminho está a Simone Signoret: charmosa como deve ser uma francesa quarentona em fins da década de cinqüenta. Joe Lampton se vê então diante de um dilema. Um dilema moral. Aqui, é claro, eu poderia fazer uma ligação com o boníssimo This Sporting Life, mas prefiro restringir-me ao filme do Jack Clayton.

A razão porque decidi escrever sobre esse filme é bem peculiar. Sim. Não achei esta uma obra particularmente memorável, mas também não sei como posicionar-me em relação a ela. A peculiaridade está aí: em geral costumo abordar aquilo para o qual tenho já formada uma opinião. Escrevo sobre o Room At The Top aqui para tentar compreendê-lo melhor.

Assim, por exemplo, compreender porque o Joe se apaixona pela Simone e porque a Simone - que ganhou um Oscar por sua atuação nesse filme - está sempre a apontar a diferença de idade entre os dois. A Simone no filme não faz papel de femme fatale - muito pelo contrário. Comporta-se bem. Talvez porque já estivesse beirando os quarenta anos - o que nos traz de volta a questão da idade. A minha amiga Maria de Fátima costuma dizer sempre que é horrível envelhecer. A Simone Signoret parece pensar assim, pois está sempre a usar esse tom trágico no rosto. Um tom trágico, mas, ao mesmo tempo, etéreo. Um ar de fatalidade.

Os temas abordados nesse filme parecem bastante avançados para a época, mas essa é uma característica do movimento New Wave. Hoje nem incomodam. O que de fato me incomoda - além de não saber ao certo para onde a Simone Signoret está olhando - é mesmo o fatalismo que todos no filme parecem abraçar. Mas é essa afinal a essência do melodrama - uma percepção exagerada de tudo que os mais sensatos procuram evitar.

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