2.22.2008

Porque deveis vós amar o Frederico Thordendal?

Ouvir!Porque ele é um génio da guitarra eléctrica contemporânea. Porque, além disso, tem cara de extraterrestre, e porta-se como se estivesse bem ciente desse facto.

Mas, essencialmente, porque, de cada vez que faz um solo, consegue traduzir um pouco dessa beleza alienígena para sons humanamente inteligíveis e trazer-nos algo acerca de que, conceptualizando num daqueles chavões chatos e mal batidos, se poderia dizer que nos faz rir por dentro. Sim, porque se nos fizer rir por fora enquanto vamos no metro a curtir o solo da Z1-Reticulados com uns Zen-nheiser HD 25-1, então o pessoal vai pensar que marámos de vez e que nos tornámos iguais a ele.

Este amigo declarado do ácido lisérgico é dono de uma sensibilidade musical sem par. Como diriam alguns, ele tem ouvido. Mais do que isso, tem dois, e usa-os de modo singularmente original para tocar viola, produzir os álbuns dos outros e dar uns toques de bateria.

Veja-se o já celebérrimo solo que ele produz na Dançarinos Dançando ao Som de um Sistema Discordante, iniciado no índice 6:29 da faixa e culminado na malha-mãe da música, índice 7:29. Esta música, justiça lhe seja feita, é um autêntico hino do metal contemporâneo. Enfim, já tínhamos tido as catarses finais das Palhinhas Tiradas ao Acaso e o resultado da Soma, a apoteose final da Malha33, mas nada nos havia preparado para isto.

Bom, e o que dizer da malha inicial da mesma música, com aquela frenética frasezinha por sobre as etéreas esparsas cordas limpas que ele tem vindo a aperfeiçoar desde o Destrói Apaga Melhora?

Mas acima de tudo agradam-me muito as malhas dançantes do Sr. Frederico. Como poderemos nós esquecer esse solo, de 1997 mas ainda revolucionário pelos padrões guitarrísticos de hoje em dia, que dá pelo nome de Baloiçando num Poço sem Fundo?

Mas nem é preciso ir tão longe. Ouçam-me só os primeiros dez segundos da Combustão. Dizer que este gajo tem 'groove' (inglês para crescimento) será apenas um desajeitado eufemismo.

Que dizer então da Sangra? Sim, já conhecíamos estas guitarras esgalhadas do Cazares e companhia da Fábrica do Medo, estilo aliás que devem ter ido beber originalmente do Frederico fase Nenhum (não se esqueçam, meus amigos, que a Desmanufactura só saiu em 1995, ao passo que o Nenhum já era de 1994). Mas criar toda uma estrutura melódica complexa em cima de uma frenética e imparável (sete minutos!) base semicolcheia-fusas-
semicolcheia, isso já é uma história completamente diferente! É o crescimento da Fábrica do Medo elevado ao cubo.

Será outrossim uma estúpida perda de tempo querer comparar o trabalho do Frederico ao de qualquer outro guitarrista vivo ou defunto da cena do peso, tirando eventualmente o Ronaldo Jarzombeque, que por vezes se emaranha tanto nas suas elucubrações teóricas que aquilo passa a ter uma piada do caraças. Sim, o Frederico é um dos mais iluminados discípulos holdsworthianos, não haja dúvida, e com o grande mérito de ter vindo trazer ao metal essa herança que o Shawn Estrada soube levar a outras paragens.

Mas o solo do Frederico que me deixou mais banzado até hoje, apesar de só ter vinte e seis segundos, é o que ele faz na Concatenação. Não consegui transcrever nem sequer o que o baterista está a fazer nesses compassos, não obstante tratar-se de um aparentemente normal 4/4. E desafio qualquer um(a) a apresentar-me uma transcrição em pauta devidamente fundamentada do solo que ele faz com a guitarra eléctrica durante esses vinte e seis segundos.

Pagarei então ao primeiro, ou primeira, que me enviar por correio electrónico essa transcrição com um exemplar original do Sol Negro por Dentro versão três ponto trinta e três, que, vejam bem, neste momento está avaliado em mais de cento e cinquenta euros.

Enquanto não o fizerdes, amai, pois, o esplendor guitarrístico do Frederico e dissecai de ponta a ponta as inovadoras técnicas de controlo com que ele nos tem vindo a presentear nos seus trabalhos.

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