Se tomar um ônibus no condado de Fife com a intenção de cuspir o mal-humorado motorista e sair correndo, atenção: todos andam armados com um kit da genética mais avançada para, a partir de uma gotícula da nojenta saliva, identificar o vândalo e talvez localizá-lo, sei lá, por radar. É a tecnologia a favor dos motoristas de ônibus e contra o anonimato do irado cidadão comum. O Reino Unido orgulha-se de ter o maior número de câmeras instaladas em lugares públicos no mundo. Cada passo que se dá na ilha é monitorado e registrado. O Orwell, além de bom escritor, foi profeta.
Outro dia, um escândalo. Distintos senhores ingleses foram condenados por atos obscenos em banheiro público. Desavisados, não sabiam que, enquanto as esposas cozinhavam em casa inocentes pudins de rim, estavam sendo filmados fazendo aquilo que não podiam fazer com as prendadas mulheres! Quer dizer, os senhores julgavam - com alguma razão - que estariam ali mijando na mais inacessível privacidade. Vêm uns guardiões da moral e dos costumes que julgam bons e filmam tudo às escondidas? Então sexo em lugar público é ilegal mas invasão de privacidade não é? Tudo isso faz-me lembrar aquela canção que o Raul Seixas compôs Para Nóia: "vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro, com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro". Mas o Raul Seixas falava de Deus, um ser temerosamente onipresente.
Eu já ando pelas ruas desconfiado. Olho para prédios, árvores: tenho a certeza de que me estão me viajando e isso me assombra. Não que esteja pronto para cometer um crime na próxima esquina. Entretanto, o fato de estar sendo vigiado por um ser onipresente (quiçá onipotente também) faz-me pensar que já não há nenhuma vantagem em ser ateu! Uma das características da paranóia é mesmo essa: a idéia de que se está sendo perseguido. Essas câmeras escondidas podem nos pôr a todos paranóicos, porque nunca haveremos de saber se estamos sendo perseguidos de fato ou não. E a vontade mesmo é de cometer um ato vândalo, para ao menos justificar a existência das câmeras, o dinheiro gasto para instalá-las e mantê-las em funcionamento. Portanto, da próxima vez que vir uma câmera de circuito fechado, não pense duas vezes: cuspa. E corra.
2.21.2008
Spit & Run!
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