4.17.2008

A Polidez Britânica

Hoje, andando por calçadas estreitas na Grã Bretanha, deparei-me com um acontecimento curioso. Lá vinha o casal de velhinhos, em passos lerdos, atrapalhando o caminho do jovem lépido e apressado. O jovem tentou driblá-los; não conseguiu. Chamou, entretanto, a atenção do velho, que deu passagem ao jovem lépido. Contente e apressado, o jovem sorriu e agradeceu: "obrigado". Não ouviu depois o comentário do velho: "ora essa, devia ter dito com licença, por favor e perdão!" Assim funciona o sistema de polidez na Grã Bretanha - atenção.

Não é muito raramente que ouço dizer dos brasileiros que somos um povo mal-educado. Não há nada disso no Brasil. Não agradecemos ao motorista de ônibus por fazer o seu trabalho, não pedimos perdão a anônimos nas praças por ter espirrado ou tossido, não pedimos licença a cada velhinho que nos atrapalha o caminho. A coisa assim parece ser meio anárquica, mas funciona. Funciona tão bem que, chegando um incauto em terras onde os pássaros gorjeiam como em nenhuma outra cheio de frescuras, há de ser motivo de piada. Ou de estranheza. Ou de profunda antipatia. Ou de tudo isso junto.

Eu não sei o que dizem os sociólogos a respeito do sistema de polidez no Brasil. Também não me ocorre agora se o Darcy Ribeiro já teceu alguma análise aprofundada sobre o assunto. O certo é que penso ser a prosódia uma grande pista para se entender como nós os brasileiros mostramos cordialidade no trato social. O resto há de ser redundante. E, em matéria de linguagem, somos famosos por detestar a redundância.

Voltando, todavia, aos sociólogos, quero imaginar se não há uma explicação mais complexa para o fenômeno da polidez sucinta (ou da completa fata de polidez, para quem nos vê de fora) do brasileiro comum. Seria mesmo um consciente desapego a convenções, resultado de uma história de lutas por libertação de um velho mundo? Ou seria pura falta de requinte mesmo, característica das classes econômicas menos privilegiadas?

Eu não sei ao certo. O certo é que estou mas para que se fodam todos esses velhinhos britânicos, presos a um sistema de regras ditadas por uma hierarquia estúpida, que andam a passos de tartarugas em calçadas estreitas por onde caminham jovens lépidos e apressados.

3 comentários:

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Hang the velhinhos! Que chatas, essas inglesices... Beijo, meu querido. Saudades daqui também.

Anónimo disse...

Great comment on language redundancy, Mr. S!