10.31.2009

Joana Isabel

Hoje eu acordei pensando na Joana Isabel. Não vá querer me cobrar o que eu tinha prometido, que estou com sono e mal-humorado. Aliás, nem dormi direito, e acho que foi o café ou a Joana Isabel, ou ambas as coisas, não sei. Ainda é quase meio-dia e já estou ouvindo aquela ópera alemã cujo nome nunca recordo. Mas eu pus pra tocar aqui em casa quando você esteve para o jantar, lembra? Pois é, aquela ópera... Assim é melhor, que não entendo muita coisa e detesto música que me ponha deprimido. Maria de Fátima das Portas do Largo do Sol, diga-me o que fazer para esquecer a Joana Isabel? Eu já não leio, a tv me enfastia, não quero ir ao cinema pela mesmíssima razão, tenho a bicicleta avariada no quarto dos fundos, o ginásio com pagamento atrasado e, para completar, a vida vazia sem a Joana Isabel. Se calhar, é melhor mesmo que eu dê um jeito nas roupas por lavar, senão amanhã não vou poder ir às aulas, e amanhã tem a aula do Padre Inaldo, naquela hora pouco ortodoxa, em que estamos apenas nós três e o Padre Inaldo. Até hoje eu me pergunto porque ninguém mais se matriculou no curso de latim. E ficamos nós três, a santíssima trindade, com o Padre Inaldo a rezar a missa. E a Joana Isabel com aquela cara de espírito santo, com a mesma expressão de sempre, aquele seu ar immutabilis. Tão virtuosa, enquanto você ri de mim e eu tento esconder a minha aflição de quem rouba impressos da Biblioteca Central e não sabe o que fazer para evitar as traduções de frases afirmativas da Enéida: varium et mutabile semper femina. Mas um dia acabo com essa vida de frases afirmativas, Maria de Fátima, e pergunto, da janela mesmo da sala de aula, onde lá está o anúncio de vermute com a foto dela sempre a mesma que jamais vai poder mudar: ó Joana Isabel, está interessada em conhecer alguém que escreve mensagens como essa para ninguém como se fosse a sério?

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