Gosto muito dos grupos de rock que usam as pausas de uma forma dinâmica. Existem algumas formas de música popular que também recorrem abundantemente às pausas, mas dessa área não estou muito a par.
Nas coisas que ouço, eu normalmente dou muita importância à técnica e ao experimentalismo e à forma como os músicos conjugam essas coisas. Disso resulta que a maior parte das pessoas acha que a música que eu ouço é pouco estimulante (porque pouco acessível) e aborrecida. Aliás, eu próprio às vezes ponho-me a ouvir alguns temas altamente comerciais, para quebrar um pouco essa tendência. No entanto, não é essa a música que me faz pensar.
Um dos meus grupos absolutamente favoritos chama-se Silo, e é constituído por três dinamarqueses. Eu já escrevi vários textos sobre eles, mas ainda não sei explicar exactamente porque é que gosto tanto da sua música. Se calhar é porque é uma música muito fria e hermética e que ao mesmo tempo funciona de uma forma orgânica e sedutora.
Todavia, para a maior parte das pessoas que conheço, eles têm um estilo difícil e monótono. Não é fácil encontrar pontos de interesse nos seus ritmos desconexos e na sua voz sussurrante. Há até amigos meus a quem isto provoca dores de cabeça. Eu, pelo contrário, sinto grande prazer quando ouço as suas músicas.
A K2 é uma faixa que evoca em mim uma sensação de grande conforto e descontracção. Isso deve-se a vários factores. Para já, tem a ver com a forma como o som está distribuído, que dá a ideia de uma grande profundidade de campo. O som de fundo, que é como se fosse a respiração de uma máquina (a fazer as vezes de baixo eléctrico), tem também um efeito altamente hipnótico, efeito ainda mais saliente a partir do índice 4:26, altura em que deixa de ser uma vibração e passa a ser apenas uma presença, uma camada suplementar na textura da música. Outro elemento muito importante é a serenidade da voz e a espuma electrónica que parece rodeá-la, quando os restantes instrumentos a deixam sozinha. No seu aparente minimalismo, a K2 encerra em si uma subtileza e uma originalidade de dimensões desconcertantes.
10.29.2009
Música e Silêncio
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1 comentário:
a respiração de uma máquina...é isso que eu não gosto em ti, me afasta de ti. Essa frieza, esse cálculo, essa métrica que procuras na poesia, ou música.
Tento lembrar-me da tua respiração. Certas noites, partilhamos uma cama, cada um virado para seu lado, naturalmente - não, eu estaria certamente de barriga para baixo, e a cabeça virada para o outro lado, para não sentir a tua respiração.
Porque não virei o rosto? se calhar, agora, saberia como era o som, o ritmo, a espuma da tua respiração. Mas não sei. Virava-me para o lado.
E agora, que nao estás aqui, parece que o inspiro demais, o ar que por direito te pertence.
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