11.24.2009

Um Quatro Antes de Dirigir

Querida Nana,

Hoje Verônica decidiu que quer ir à igreja, e percebi que a aliança, de volta ao dedo, não está assim tão folgada como costumava ser. Não há mais como enganar aquela bruxa ali. É verdade, nunca disse que Verônica entende da arte da cromoterapia, e já a praticou com bastante sucesso. Agora é tempo. Enquanto isso, Gal sofrega: "vê se leva o mal que me arrasou, pra que não faça sofrer mais ninguem... esse amor que é raro e é preciso pra nos levantar me derrubou". Acho que deve ser uma composição do Djavan.

Ninguém entende muito bem a razão de tanta chuva em pleno verão pernambucano, e eu repito que trouxe comigo o inverno europeu. É quase uma piada, mas ninguém percebe e ninguém quer rir. Quando mostei os livros da Nan Goldin e do Ed van der Elsken para Iuska, ela não fez nenhum comentário. Nem mostrou a repugnância que a maioria das pessoas costumam querer trasparecer. Eu tenho a impressão que Iuska é quem melhor compreende o meu senso de humor.

Há, no entanto, algo que não bate. Se antes foi o André, depois o Lucas/ Hoje, por exemplo, Lucas foi surpreendido abraçando um cão, o cão da vizinha. Em muito pouco tempo estava coberto de borbulhas por toda a parte do corpo. Teve de tomar banho o mais rápido possível. Chorava como quem não se conforma com a idéia de não poder abraçar um cão. Isso assim, para o resto da vida?

A discussão que costumo ter para tentar justificar o que seja é a de que existem ações eminentemente positivas e ação eminentemente negativas. Eu sei muito bem que essa visão dicotômica do mundo está mais para um romantismo religioso que eu procuro descartar. O que eu quero implicitar com o "eminentemente" é que existe uma escala. Deve existir uma escala. Embora, no final, acho sempre que vence o egoísmo, e isso pode ser eminentemente negativo. Ou estarei enganado? Há quem suponha ser o egoísmo, a luta pela sobrevivência, o que nos faz seguir adiante.

Eu não tenho essa necessidade de evidenciar o meu amor que não aos interessados. Quando estou apaixonado sou bastante óbvio, mas provavelmente para o objeto de minha paixão apenas. A Maria outro dia quis saber porque eu nunca trazia/ Por que ela não vem? Ainda assim, cheio de vodka, respondi com uma lucidez de quem pode fazer um quatro antes de dirigir.

Beijos.

Recife, 24 de Novembro de 2002, 10:21h

Sem comentários: