Às vezes, quando gostamos realmente de uma série televisiva, seja pelo fulgor ou novidade da narrativa seja por nos identificarmos continuamente com os seus elementos simbolistas, somos capazes de lhe perdoar as maiores argoladas e chegar ao ponto de imaginar tramas na nossa cabeça só para redimir os artifícios guionísticos a que recorrem os autores. É o que dou por mim a fazer após as estreias semanais de cada episódio desta nova série da Fuga da Prisão, religiosamente retransmitida pela blogosfera e por essas torrentes afora. E isso não é bom, minhas amigas, isso não é nada bom.
No início, eu ainda curtia aquela onda da remodelação completa: ah, a fórmula dos prisioneiros em fuga já estava mais que batida, e até esquecemos aquela trapalhada do último episódio da segunda série, lançando desesperadamente a ponte entre a planeada redenção dos irmãos e um novo e derradeiro encarceramento do Scofield. E, de facto, como qualquer uma de vós, eu sou um grande fã do engenheiro de estruturas, e até me dou ao trabalho de vez em quando me pôr a imitar o tipo de voz superaspirada que ele tanto gosta de fazer. Pois é, e o Burrows até aparece todo estiloso, ali a andar de camisa fora das calças, a meio do Panamá, como se de repente a série tivesse apanhado uma aragem vinda dos lados do Miami Vice. Isso, mais as latiníssimas frontarias da namorada do Assobiador e da namorada do Leiteiro, também conhecido por Normando, até deu para disfarçar o ar de coisa feita a martelo que algumas das opções do Scheuring começavam a ter.
O problema é que as novidades depressa se gastaram, recambiadas à justa condição de elementos decorativos, e já não há nada que possa esconder o óbvio: que os gionistas andam desesperadamente à procura de boas ideias com que coser o resto da trama, procurando à força toda manter um pouco dessa impetuosidade que deixou os espectadores presos ao ecrã durante a primeira série. Quer dizer, já se sabe que a Sara tinha de morrer, porque só assim o Scofield teria justificação para a sua vingançazinha, que será como se sabe uma vingaçazona, blablablá, para que a série tenha o seu resgate final e para que, enfim, possamos ser salvos da inominável Empresa. Parece-me sobretudo má a decisão da Fox de ter mantido o pessoal dentro da prisa por tanto tempo. Isso fez com que os episódios acabassem por ficar com ritmos tão diferentes, sobretudo o quinto e o sexto comparados com o sétimo e o oitavo, que no final dá a ideia de que a história anda aos solavancos, mercê das pressões editoriais que têm sofrido os criadores. Será que a Fuga da Prisão se deveria ter ficado por apenas uma série? Enfim, ainda nos faltam catorze episódios para responder a essa pergunta. Mas que a segunda foi muito inferior à primeira, tal como a terceira está a ser até agora, disso ninguém tem dúvidas.
11.29.2007
Fuga da Prisão - Prison Break, Série 3, 3*
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