8.31.2009

Luís Gaspar

Ouvir!Ontem eu e o Francisco fomos ao INESC para falar com a Maria do Céu Viana, que só agora nos pôde atender. Como, de facto, não há nada feito para o português que tenha interesse para o nosso projecto (a não ser, talvez, a tese da Ana Isabel Mata), ela falou-nos sobretudo do tipo de anotação prosódica que estão a fazer neste momento, do ToBI, etc.

Enquanto lá estive, a coisa mais interessante que observei foi, sem dúvida, um conjunto de gravações de um locutor profissional chamado Luís Gaspar. Ele tem um registo tão grave tão grave que até faz impressão. É uma coisa verdadeiramente demoníaca. Em certos trechos, ele entra numa frequência tal que é quase como se a voz deixasse de ter harmónicos, ficando apenas um low rumbling mecânico. A Maria do Céu disse que há partes em que ele desce até aos 55 Hz, e ela já não consegue perceber se ele está a falar ou arrotar.

O seu registo fez-me lembrar sobremaneira a contribuição do Snorre E. Ruch para o último dos 3rd and the Mortal, na maravilhosa City. Fez-me lembrar também o tom psiconáutico do Thomas Haake, especialmente em faixas como a Solarization, se bem que este tenha um registo muito mais processado e artificial. Fez-me lembrar igualmente o David Foxxe, na sua contribuição para um dos álbuns do Sting, mas, agora que ouço melhor, noto que o seu timbre não é assim tão grave.

Das pessoas que falam português, aqueles que conheço, além do Luís Gaspar, que têm um registo muito grave são o Ivo Castro, o João Peres, o Miguel Oliveira e o Pinto Fernandes. O Ivo Castro tem um timbre extremamente grave, mas não é tão áspero como o do Luís Gaspar, pelo que não chega a produzir o mesmo efeito. Destes que citei, o Pinto Fernandes é provavelmente o que mais se aproxima do registo do Luís Gaspar. Das mulheres, não posso deixar de referir a Joana Isabel, que tem uma voz absolutamente assombrosa. Devo dizer que os registos muito baixos não me agradam muito nas mulheres, mas ela é um caso à parte. É a imponência encarnada.

Quando acordo, de manhã, geralmente também tenho um timbre bastante grave. De facto, gostaria de tê-lo sempre, pois agrada-me fazer prolongamentos vocálicos e hesitações nesse tipo de frequências. É pena que normalmente não dure muito.

21 de Setembro de 2002

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