9.23.2009

Muito Cedo Para Pipa

Querida Maria Helena,

Hoje Lucas insistiu que queria uma pizza, a pizza da Lumaca. Lumaca, ele diz muito sério, é o nome do caramujo numa língua que desconhece. Agora não sabe ao certo porque uma pizzaria há de se chamar assim. Ele anda muito sério. Hoje quis me apresentar a escola, a professora, a Maria Clara (por quem nutre uma paixão secreta, embora já tenha me confessado que ela o despreza), a bicicleta nova. Mas acabamos mesmo tomando sopa de feijão, muito boa, que só a Marinalva sabe fazer. Entre uma colherada e outra: Maria Clara é da segunda série. Eu não tinha ânimo para rir, porque a pimenta que resolvemos experimentar na sopa - a pimenta em forma de bolinha de árvore de natal que cresce em nossa horta - estava muito muito forte. Amanhã, eu prometi cheio de pena, amanhã vamos à Lumaca.

Enquanto isso, o dia foi de preparativos. É que na quarta-feira vamos todos a Pipa, no Sertão de Caicó. Eu estou mesmo curioso para afinal saber a razão de termos tantos portugueses em Pipa. Por isso hoje comprei as camisas de malha de algodão - das quais já tinha falado -, protetor solar, umas sandálias havaianas e/ Tive de fazer eu mesmo a seleção de CDs que vamos levar para a viagem. Desde que cheguei, só escuto o CD que a Paulinha me emprestou, tão simpática. Claro que a repetição enerva os outros todos que me acompanham no carro. E já foram muitos, porque amigos aqui/ Ontem à noite foi a festa do reencontro, e vieram Lourenço, Nelson, Jorilda, Jussara, Gorette, Prazeres, Reinilda, Telma, Júlio, Jurema, Zé Carlos, Piedade, Ângela, Jurissélia, Rejane, Edna e Misterlene. Misterlene tinha de vir, somente pelo nome. Ficamos tomando qualquer coisa ao redor da piscina, e como não podia deixar de ser, acabamos todos molhados. Choveu. Aqui é inverno.

Eu lembro que quando acordei já sentia um cheiro de café por todo o lado. Marinalva é a melhor prima que Verônica jamais podia ter. Sempre faz um café tão bom! E faz também um doce de jaca que é quase blasfemo. Tinha a Telma dormindo numa rede e o Pedro Paulo, de quem não falei por razões que devo explicar mais adiante, dormindo na outra. No tapete, ao lado do sofá, como não podia deixar de ser, Jurema e Jussara. É preciso que se saiba: moramos no campo, em Aldeia, um lugar remoto e quase muito distante da civilização. Ademais, os que conhecem o café da Marinalva, preferem dormir aqui mesmo, ainda que seja no desconforto do tapete da sala.

Ocorre que hoje à tarde estávamos bastante cansados, e eu resolvi dormir, dessa vez na cama mesmo. É possível que hoje à noite Verônica queira ir ver a tal peça baseada livremente no conto do Rosa, A Terceira Margem do Rio. Verônica conhece os dois atores da peça. Conhece esse mundo artístico todo por conta do irmão, que além de vender saduíche natural na praia do Pina, era ator. Eu não gosto muito dessas produções locais, mas como já vimos O Casamento em Baixo de Chuva (Que Aqui Se Chama Casamento à Indiana), não nos restam muitas opções. Madalena, a coordenadora da Fundação Joaquim Nabuco, onde vai o tal filme indiano, é muitíssimo amiga de Verônica também, mas agora já tem a certeza de que eu a odeio. Eu?! Eu que só não amo mais todo o mundo porque nasci em 1969!?... O que deve pensar a Rita, então? E a Mafalda? E a Margarita?

Está tudo certo: partimos na quarta-feira muito cedo para Pipa, a praia dos portugueses que fica no Sertão de Caiocó. Acabo de ligar para a dona da Pousada e está tudo certo: partimos na quarta-feira muito cedo para Pipa. O lugar é ótimo, e o preço é razoável. Eu confesso que estou um pouco excitado com a idéia de saber o que afinal tantos portugueses/ Mas ainda é preciso comprar umas duas ou três coisas antes de partir, como por exemplo um cartão postal/ quero dizer, quase meia dúzia. Eu não gosto de enviar cartões postais, mas sempre o faço com todo o prazer. Há tantas coisas bonitas por aqui.

Um beijo.

Recife, 09 de setembro de 2002, 20:55h

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