Querida Rejane,
Parece que os domingos estarão mesmo reservados para as reuniões em família, e dessa vez eu precisava mesmo rever a Graça. É verdade que tinha convidado, para além da mãe da Graça (Tia Lu), também as tias Nice & Dora. Tia Nice disse estar muito cansada, não viria. Tia Dora deu para ensinar catecismo. Pronto. Seria uma almoço com Tia Lu e Graça, além das irmãs de sempre: Kátia, Ilka & Iuska, e da mãe. Kildrey não tem muita paciência para eventos que tais; nunca teve. Então, depois de escutar a trilha sonora do Blanche (aquele filme do Kieslowski), como faço toda manhã, e de resolver algumas questões de ordem burocrática, fui até a casa de D. Miau buscar a trupe.
(O sábado tinha sido um sábado preguiçoso. A viagem de volta e o almoço de beira de estrada talvez tivessem nos indisposto. Já não recordo exatamente como se passou a tarde, mas já para o angelus decidimos visitar o tal terreno acidentado que Verônica quer comprar em Aldeia. É ainda mais distante! O terreno é de fato bastante irregular, mas é possível, com algum dinheiro, criar uma estrutura quase subterrânea e permanecer como que encrustados no meio de uma vegetação nativa que lembra os quadros do Albert Eckhout - aqueles que vi no Museu Nacional de Copenhague. De lá, seguimos para uma videolocadora, e então, antes dos filmes, queríamos mesmo era uma pizza.)
Tia Lu não demorou muito, mas chegou com um joelho esfolado. Graça tinha propositadamente deixado que ela caisse na calçada de concreto, porque Graça às vezes é perversa. Finge não sê-lo, com aquelas trancinhas ingênuas, mas não convence absolutamente ninguém. Ficou decidido que Tia Lu iria no lugar de honra, no banco da frente. Sharon Stone, Kátia & D. Miau não se importavam de ir no banco de trás, porque era assim mais confortável do que um Tabatinga ao meio-dia.
Por que tinha de ser feijoada, se as duas irmãs têm colesterol altíssimo e pressão arterial não menos baixa? Sugestão da Graça. Elas comiam ressabiadas, mas não vão morrer agora. Se calhar, foi mesmo por conhecer a Graça que Tia Nice não veio. Já devo ter lhe dito que tia Nice é a mais regrada de todas as irmãs; aquela que ficou mesmo de fato precisamente para tia. Chega a ser muito séria, embora ainda recorde com certa saudade o único namorado que teve, o tal que teria partido para a Guerra. Há um episódio sobre Tia Nice/ Como pude ter esquecido de Djanira? Ela teria vindo? Djanira é a irmã de criação que viveu durante muitos anos com Tia Nice. Foi Djanira quem achou D. Estefânia morta no banheiro.
É inevitável que as várias histórias da família sejam repetidas nessas ocaisiões. Eu não me importo, até mesmo incito as pessoas para que contem o que quer que se lembrem. Tia Lu, por exemplo, contou a respeito de um namorado que teve por vários anos. Clóvis. E falou acerca de um namorado de mamãe que eu jamais ouvira falar. Depois foi a vez de tentar dar conta do que faz ou fez cada um dos primos; a família é imensa. Iuska participa ativamente; Ilka não gosta, e resolve ler uma revista. Kátia uma ou outra vez lança um comentário, embora faça questão de transparecer que não está prestando atenção a nada (mentira).
Há sessões de fotografia, muitas poses e cada um que queira ver imediatamente o resultado. A tarde foi rápida, e tivemos um café muito simples, com pão doce, tapioca, bolo de rolo e pamonha. Umas velas dispostas pela mesa e todo mundo cansado. Eu percebi, embora Iuska tenha depois sugerido com a sua usual perspicácia ter sido provavelmente uma impressão minha enganosa, que umas poucas pessoas naquela reunião em família faziam comentários bastante críticos a meu respeito. O engraçado é que para mim nada disso já tem muita importância. Lembro de como os grilos me incomodavam antes de partir para Lisboa, mas agora os grilos já não cantam. As noites têm sido tranquilas.
Um beijo.
9.29.2009
Os Grilos Já Não Cantam
Aldeia, 16 de Setembro de 2002, 12:21
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