10.07.2009

O Aparente Narcisismo

Querido Alexander,

Ontem estivemos eu e o Nelson a falar justamente nisso; depois, já no bar da Madalena, com Alcidésio e um prato de macaxeira, é que descubro serem todos eles muitíssimo tradicionais, no pior dos sentidos. Quase tivemos uma briga feia. Acontece que deve haver sanidade nesse mundo, deve haver. Eu não posso estar errado e todos esses olhos assim certos. Hoje à noite vou sair, a despeito do que quer que seja. Vai chegar atrasada com seu mal-humor e um carro. As chaves; hoje à noite vou sair e pronto, como disse a Rejane na hora do almoço. É preciso que a gente/ Ela concordou, e queria prolongar o assunto. Rejane quer sair comigo, mas resta muito pouco tempo.

Quando no café da manhã anunciei que iria à praia, foi como se o mundo/ Como é que disse o avô de Tom Zé? Como se a matéria perdesse a noção da gravidade, uma coisa assim. Detesto lidar com gente raivosa, com implosões de átomos, esses assuntos. Manti a minha calma habitual, e fui o caminho todo escutando Cazuza: meu bem se situe/ e pare de me dar resposta pronta/ que você tem problemas eu sei/ são coisas da idade... Quando cheguei a Boa Viagem, andei até chorar. Depois fiquei num desses assentos inclinados. Gosto de ver a gente passar. Por que não tinha levado a minha máquina? Ainda tenho de tomar coragem para fotografar os anônimos. Mas era sobre a água de coco que eu me propus falar. Ou sobre a cerveja com camarão ao natural? Como vou sentir falta de tudo isso!...

Não tive problemas para encontrar os CDs que a Celeste quer, nem a camisa de linho branco. Aquela rapariga muito bonita da Siberian Jeans foi além disso bastante simpática. Quando pediu que eu botasse o meu número de telefone no papelito do VISA/ Saí correndo do Shopping Center porque tinha prometido que iria almoçar no restaurante de Rejane, e já estava cheio de fome. Que é a curiosidade daquela gente toda atrapalhando o fluxo natural dos automóveis para ver afinal uma gota de sangue que seja por baixo daquele carro capotado? Não é esse o tipo de curiosidade a que me refiro. Eu vivo da pesquisa, você sabe. O meu nome é uma pergunta. Etc. Estou farto de repetir isso.

Rejane parou tudo para almoçar comigo, tão simpática. E conversou longamente sobre as minhas mensagens da Ilha da Madeira. Não fazia perguntas. Apenas dizia a reação de cada um dos funcionários do restaurante que tinha lido as mensagens. Um deles queria saber se a Felippa tinha vindo comigo. Todos estão bastante célebres no restaurante da Rejane.

A despeito disso, conversamos exatamente o que havíamos às garfadas na noite anterior. Rejane definitivamente concorda comigo. Somos bastante diferentes, tenho de admitir. Mas nesse ponto/ Quero dizer, eu talvez seja mais imediatista, embora essa mensagem não tenha sido necessariamente sobre mim. Há aqui algo muito mais importante e o aparente narcisismo é pura fachada. Veja-se o que vai acontecer logo mais à noite.

Beijinhos.

Recife, 27 de Setembro de 2002, 17:53

Sem comentários: