10.14.2009

There Are So Many Things

Querido Frank Henne,

Eu tinha hoje sugerido que acho mesmo ter tudo isso começado quando aceitei a oferta de Virgínia e fui a Frankfurt. Talvez nunca/ Mas isso é bastante contraditório, porque eu sou aquele que apoia, vai às ruas e proclama a importância da experiência. Go experience! I mean, there are so many things out there since Shakespeare... Entretanto, se ontem decidi que estou ao lado dos que pedem socorro, é porque talvez seja tempo de buscar uma clínica de reabilitação, como fez a Nan Goldin.

Que é que é a beleza, afinal? Aquela que o Vinícius proclamou como fundamental? Assim, por exemplo, por que é que você pensa que eu sou bonito? Por que é, por exemplo, que a Felippa não me dá a menor atenção? É dessa beleza que eu quero falar, por exemplo. Vejamos. Ilka uma vez foi parada no meio da rua e ouviu um comentário bastante desagradável: «tu és muito feia». Quero dizer, por que alguém se daria ao trabalho de/ Nunca ouvi um comentário que tal, embora esteticamente não me classificaria bonito. Mas então por que a Margarita outro dia... Ou, mais recentemente, por que a Rita...? Acha que as pessoas gostam de ser agradáveis?

Não acho que/ Eu fico bastante incomodado quando dizem que alguém é feio. Como assim, feio? Eu sei dizer, por exemplo, quando alguém é bonito porque chama-me a atenção. Entretanto, sou absolutamente distraído para ver os feios, se é que eles existem. Será por que/ Eu admito, por exemplo, que o Tiago não ache ela bonita, como me disse na Madeira. Eu acho. Mas também não sei porque dizem a mim que o Tiago é um susto. Com isso eu não posso concordar. É que as pessoas ignoram, por exemplo, os ângulos. Eu sou muito mais atento aos detalhes. E as fotografias não revelam absolutamente nada, justamente por conta disso.

Assim, por exemplo, veja a Rita. Ou a Elisabete. Veja a Susana. Ou a Mafalda. Verônica, veja a Paula. Assim, por exemplo, veja a Margarita. Ou a Ana. Veja a Maria Helena e a Eduarda. Elas todas são absolutamente bonitas por razões diferentes. Eu as acho tão bonitas todas... Sou incapaz de dizer que/ Isso de classificar as pessoas não faz mesmo o meu gênero e me deixa muito deprimido. Não quero andar com quem me diz aquele ali é feio. Feio?!

Sabe a razão porque penso ter sido a viagem a Frankfurt que me fez criar expectativas? Foram todos aqueles olhos. Não os olhos do Recife, se é que me faço compreender. Esses já são outros. O que há de mal, por exemplo, que eu tire uma fotografia daquela rapariga no ônibus com a capa preta? A Maria hoje veio com uma conversa bastante lugar-comum de que todas as raparigas do ILTEC/ Estamos tendo muitos problemas recentemente com essa história de simpatias, eu acho. Ninguém está preparado para pensar que/ Mas sobre isso falei ontem. E antes de ontem. Já começo a ficar repetitivo.

Apetece-me agora falar sobre o Martin Parr.

Beijos.

Lisboa, 09 de Outubro de 2002, 20:41h

Sem comentários: