10.12.2009

O Medo de Que Já Havia Falado

Caro Fernando,

É só apertar o botão onde diz FAST FORWARD, achou? Let´s fast forward to a few weeks later. É a Tânia, mas não/ Quero dizer, ainda não contei absolutamente nada, como havia prometido. Hoje à noite a Tânia vem jantar aqui em casa, e tem luz de velas e todas as coisas de que a Tânia gosta. Vamos ver se dessa vez vai tudo sair certo porque já estou farto de saber as coisas/ Estou farto desse Requin au Four que nunca sai como quero. Vejamos.

Primeiro é preciso que/ A Maria já recusou duas vezes, agora que está ocupada com os lápis de cor e o compasso. Mas não é porque tenha recusado a Maria que eu/ Let´s fast forward, porque agora é da Tânia que devemos falar. Não é? A Tânia, naquele dia, no taxi, contou-me o que tinha se passado com ela e o Pedro na Madeira quando foram tomar uma poncha de absinto ao pé de Câmara de Lobos. Então riu como se quisesse dizer exatamente o que tinha sugerido um pouco antes no karaokê.

Olha, ela faz mesmo o gênero de quem vai gostar do novo album da Alanis. Embora eu acredite que talvez deva impingir aquele da Josefine, o que ganhei de presente já há bastante tempo do Jack. Está bem, está bem. Não precisa ser um jantar romântico. Eu até tenho medo de todo esse romantismo, porque todo mundo tem. Se não tivessem, talvez tudo fosse menos complicado. Quero dizer: o problema é mesmo ter de falar. Por que é que a gente precisa/ Nesse tocante, eu acho que o James tem toda a razão. Mas por favor! Avancemos no tempo. Já é hora de pensar na Tânia. Dentro em breve ela vai estar abrindo aquela porta e/ Eu sei muito bem, não devia/ Agora está feito.

O *meu* medo é enfim ter de falar no que havia prometido silenciar por pura falta de assunto. É assim que acontece sempre. A Tânia vai esgotar todo o assunto e lá vamos nós. É assim, Tânia: se não fosse por sua imaturidade, nada disso teria acontecido. Mas ele sabia exatamente a confusão em que estava se metendo, embora preferisse ignorar. Agora - aposto - deve estar contando meia-verdades para quem quiser ouvir, como quem põe pó por sobre o tapete. Tânia (eu provavelmente também não devia) não devia ter tomado tanto vinho, e vai já devolver-me a chave. É o medo de que já havia falado.

Enquanto isso, o presente é muito menos engraçado.

Beijos.

Lisboa, 07 de Outubro de 2002, 22:22h

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